- CORROSÃO DE ACESSO A PRODUTOS (pH 3,0 a 5,0)
A principal manifestação deste tipo de corrosão é a dissolução, pela acção do conteúdo da lata, do estanho e dos metais ferrosos que compõem a lata.
Esta dissolução é acompanhada por uma libertação de hidrogénio que, em certos casos, faz com que a lata se dilua (principalmente em latas envernizadas ou com excesso de ar livre), o que pode levar à perfuração da lata.
As manifestações secundárias desta corrosão são alterações na aparência, cor ou sabor dos alimentos.
A corrosão da folha-de-flandres devido aos alimentos ácidos é caracterizada pelo facto de o casal estanho-ferro funcionar como uma bateria, na qual o estanho desempenha o papel de anodo, ou seja, tem um potencial negativo em relação ao ferro, e os iões de estanho passam consequentemente para a solução, enquanto os iões de hidrogénio provenientes da electrólise da água são descarregados sobre o ferro (catodo que dá origem ao hidrogénio gasoso).
Por um mecanismo eletroquímico a lata protege o ferro: esta proteção do cátodo pelo ânodo é chamada de “proteção catódica”.
Estanho = ânodo Ferro = cátodo
- INFLUÊNCIA DO ENVERNIZAMENTO
A relação entre as superfícies de ferro e estanho, expostas ao ataque ácido, é muito importante para assegurar uma “protecção catódica”.
Esta relação é eficaz no caso da folha-de-flandres nua, porque uma grande superfície de estanho (ânodo) está na presença de uma pequena superfície de ferro nua (cátodo) (cortes nas folhas, fracturas da camada de estanho…).
A fim de proteger o produto contra os efeitos colaterais da corrosão, ou para proteger a apresentação, ou para salvar o estanho, é normal hoje em dia envernizar as latas. A superfície do ferro nu exposto (cortes de chapa, solda elétrica, fraturas da camada de estanho,…) é sensivelmente a mesma que a superfície do estanho em peças de estanho nuas.
Neste caso, como a lata aparece apenas nas margens, arranhões, fraturas e fraquezas da camada de verniz, a superfície anódica (lata) é muito fraca. A protecção electroquímica é de facto abolida. Muito rapidamente a corrosão ataca o ferro, que é atacado em profundidade até que a lata seja perfurada.
Ao impedir a dissolução do estanho, o envernizamento também suprime o efeito inibidor dos iões de estanho sobre a corrosão do ferro.
Em resumo, a remoção destes dois factores significa que a corrosão, sendo todas as outras condições iguais, é mais rápida no caso da lata envernizada do que no caso da lata não envernizada.
Para que o verniz abrande a taxa de corrosão, é necessário aplicar uma camada absolutamente contínua e impermeável; isto pode ser conseguido inteiramente repintando as latas após a sua fabricação.
O estanho lacado será muito adequado para muitos alimentos ácidos agressivos, especialmente aqueles que não toleram o contacto com o estanho (descoloração de frutos vermelhos, cerejas, groselhas, etc. ….). Infelizmente é mais caro. Pode ser substituído por uma lata simplesmente lacada na costura lateral, mas na condição de serem fabricados com o resto da superfície lacada rigorosamente livre de riscos ou fissuras.
A lata lacada é, além disso, indispensável para produtos sensíveis ao menor vestígio de metal: cervejas, vinhos, refrigerantes.
- OUTROS FACTORES envolvidos na corrosão
1 Fatores inerentes à lata
- a) A composição do aço
- b) A taxa de estanhagem
- c) a porosidade da lata
- d) o papel do envernizamento (como já vimos)
- Fatores independentes da lata
- a) influência do oxigénio e dos compostos oxidantes
- b) A temperatura de armazenamento das latas cheias
- c) Enxofre e compostos de enxofre
- CORROSÃO DE BAIXO PRODUTOS DE ÁCIDO (pH 5,0 a 7,0)
No caso de produtos pouco ácidos, o ataque do metal assume diferentes aspectos, dependendo dos produtos.
1- SULFURIZAÇÃO
Um dos casos mais frequentes é a sulfuração, que se manifesta por um marmoreado castanho ou azul (sulfureto de estanho) da folha-de-flandres em contacto com o produto, e pela formação de manchas negras (sulfureto ferroso) onde a placa é exposta, especialmente e por vezes exclusivamente na tampa superior durante a esterilização.
O enxofre responsável por este ataque provém quer das proteínas dos alimentos gerados sob o efeito do aquecimento, quer do enxofre ou de compostos de enxofre estranhos ao alimento, mas contribuídos pelo próprio alimento.
Os alimentos ricos em proteínas e susceptíveis de enxofre são principalmente carne, especialmente miudezas e tripas, peixe, crustáceos e moluscos, caracóis, grãos de leguminosas, milho, produtos aleatórios (alho, cebola) e legumes cruciferos (couve, mostarda).
É possível evitar manchas de sulfureto de estanho nas paredes das latas e, ao mesmo tempo, proteger os produtos contra manchas de sulfureto de ferro (o sulfureto de estanho geralmente adere à folha-de-flandres e não mancha o produto), por meio de vernizes anti-enxofre; estes vernizes contêm óxido de zinco em suspensão, que fixa o sulfureto de hidrogénio e o transforma em sulfureto de zinco, incolor e insolúvel, uma vez que se encontra encerrado no verniz. Os revestimentos de óxido de zinco não devem ser utilizados com produtos ácidos.
Também é possível utilizar vernizes sem óxido de zinco, mas suficientemente impermeáveis para constituir uma tela mecânica para a passagem do sulfeto de hidrogênio. Neste caso, este composto não é fixo e permanece no produto para o qual pode transmitir um sabor desagradável.
Outra solução é a utilização de latas com corpos e fundos de folha-de-flandres nua protegidos por um verniz impermeável. O sulfureto de hidrogénio é fixado no corpo da lata, e os fundos são protegidos. A rigor, seria suficiente para proteger a parte inferior na parte superior durante a esterilização.
Finalmente, com produtos que têm um sabor ligeiramente ácido (crustáceos), a formação de sulfureto de ferro é evitada através da diminuição do pH, adicionando ácido cítrico a pouco menos de 6,0. A acidificação não impede a formação de sulfureto de estanho.
Os vegetais ácidos são geralmente pobres em proteínas de enxofre e normalmente não produzem enxofre. Se aparecer (sulfureto de estanho), isso indica uma entrada de enxofre estranho. A melhor solução é evitar tais contaminações.
II- HERRUMBRE
A formação de ferrugem (na parte superior inferior em contacto com o gás do headspace) indica a presença de ar. Isto é favorecido se houver sulfidação. É possível proteger contra isso utilizando fundos envernizados impermeáveis, mas também é necessário monitorar a remoção do ar e possivelmente a contaminação por produtos sulfurosos.
III- DESTINAGEM DEVIDO AO ÓXIDO DE TRIMETILAMINA
Este composto altamente oxidante está presente em certos peixes, especialmente em certas épocas do ano, e causa a rápida descontinuidade das latas. Ao mesmo tempo há uma formação de trimetilamina, cujo odor pode sugerir uma alteração bacteriana dos peixes. A protecção por um verniz anti-enxofre ou à prova de água é geralmente eficaz.
IV- CORROSÃO DEVIDO A NITRATOS E FOSFATOS
As carnes salgadas, principalmente presunto, contêm uma proporção muito elevada de sal comum, nitrato e nitrito de potássio, muitas vezes também fosfatos de sódio.
Os queijos processados normalmente contêm fosfatos.
Estes diferentes sais, especialmente se aparecerem em excesso ou mal distribuídos, favorecem o ataque da folha-de-flandres em certos pontos da lata.
A utilização de um verniz impermeável é uma boa protecção.
E -CONCLUSÕES – PRECAUÇÕES A TOMAR
Primeira regra: evitar a fratura da camada de estanho e da camada de verniz.
– A folha-de-flandres electrolítica é particularmente sensível a riscos devido à fina camada de estanho e à camada de liga de estanho-ferro, bem como às dificuldades de aplicação do verniz e à diversidade de passivações.
– Deve-se notar que as placas cromadas (TFS) são ainda mais sensíveis, devido à sua espessura fina e à dureza frágil da camada de cromo ou óxido de cromo.
– As folhas devem ser usadas e manuseadas com o devido cuidado.
Os PRINCIPAIS RISCOS vêm de:
1.- Riscos (este é o risco mais grave) tanto na entrada como na saída da linha de pintura, daí a extrema importância de monitorar e regular os dispositivos de alimentação e descarga.
2.- Falhas do verniz (devido a diferentes causas: baixa carga, pressão, excesso de óleo nas lâminas, lâminas molhadas,…).
3.- Cargas insuficientes ou secagem em estufa (aumenta a fragilidade e o risco de porosidade).
4.- Cargas excessivas ou secagem no forno (danificam o verniz e o tornam frágil).
5.- Lâminas quebradas (causam falhas e fraturas de estanho).
6.- As folhas marcadas (tanto no envernizamento como no processo de fabricação aumentam todos os riscos de quebra e arranhões).
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